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Jão fala sobre a turnê, fãs, inspirações e próximo disco. Confira entrevista completa para a Rolling Stone Brasil.

O cantor Jão, considerado hoje, o fenômeno de 2022, é capa da Rolling Stone Brasil, em comemoração a edição digital da revista, o cantor concendeu uma entrevista exclusiva, para Eduardo do Valle (Dudu Valle), da revista Rolling Stone. Confira abaixo:

O que você ainda não conquistou com essa turnê PIRATA?

Dudu Valle

Eu acho que tudo que a gente tinha como objetivo para turnê pirata, especificamente, a gente excedeu as expectativas que a gente tinha traçado. Então, tudo que tá vindo agora pra mim é muito louco, é obvio que tem um milhão a mais a conquistar, lugares a chegar e sonhos que eu quero pegar nas malas, que são objetivos lá pra frente, mas o que a gente tinha programado para a turnê pirata foi muito além do que eu esperava que fosse, agora, só to me divertindo.

Jão

O que que você aprendeu e o que mais te surpreendeu com essa turnê, com esse momento, com essa era pirata?

Dudu Valle

Eu acho que eu ganhei uma confiança muito grande em mim mesmo assim, eu acho que meus álbuns são muito documentais da minha vida e todos eles refletem fielmente, obviamente, de uma maneira muito fantasiada pela letra, pela estética, por tudo, acho que é o trabalho do compositor, do artista transformar a sua vida em uma coisa legal e a era pirata me trouxe confiança.

Jão

Pirata é um show que além de tudo, ele é muito lindo, ele é visualmente muito lindo, a cenografia dele é bonita, vocês fizeram chover no palco, queria saber o quanto disso surgiu de você mesmo, se você tava por trás de tudo isso, pensando em cada detalhe, já conhecendo teu público?

Dudu Valle

Eu já tinha mais ou menos uma ideia do que seria o disco e eu levei um tempo para concluir, foi o álbum que eu demorei mais. Os meus projetos são criados à muitas poucas mãos, é assim que eu gosto de trabalhar, e eu acho que o pirata era muito uma projeção de alguém que eu queria alcançar, quanto mais cafona pra mim mais legal, quanto mais ilusões você cria no palco para as pessoas simplesmente esquecerem tudo que tá acontecendo, pra mim, é o válido sabe?

Jão

Que show você viu recentemente que cê curtiu? Que de repente te inspira?

Dudu Valle

Eu vi o show da lady gaga em Londres e eu fiquei bem impactado, por que é um nível técnico, um nível de espetáculo muito grande.

Jão

Quem que é você como fã? Você é o fã que grita, que chora junto ou é aquele fã que prefere mais escutar aqui e ali?

Dudu Valle

Eu não sei que tipo de fã sou eu, quando eu vou no show, eu gosto de ir no show, eu quero pular, gosto de ficar no meio da galera, gosto de sentir o show.

Jão

Eu queria saber o que as pessoas não entendem sobre o pop no Brasil?

Dudu Valle

Eu acho que por muito tempo as pessoas tentaram lixar certos tipos de gêneros musicais, de espetáculos, enfim, eu acho que muito que o publico brasileiro quer, é que a gente se esforce, que a gente faça bons shows, que a gente faça boas músicas, que a gente entregue bons clipes. A gente tem talentos muito fodas e eu acho que eles esperam isso da gente, sabe?

Jão

Hoje é fácil a gente encontrar na internet, na imprensa, o artista da geração Z, eu queria saber se você concorda com isso, você é um artista da geração Z ou para a geração Z?

Dudu Valle

Eu acho que não tem muito como eu não concordar, eu sei que grande parte do meu publico é da geração Z e eu acho que os temas que eu canto, a forma como eu trato minha carreira, que não foi nada intencional, eu vou cantar para a geração Z, só foi algo que aconteceu então inegavelmente eu sou uma pessoa que pra eles é uma figura. Não sei se eu sou um ícone da geração Z, algo do tipo.

Jão

Ao mesmo tempo, a gente ver artistas veteranos, nossos ídolos querendo fazer essas parcerias com você, eu posso citar aqui o Nando Reis, Skank, tem a Ivete Sangalo, então eu queria saber como é que você navega por esses universos todos com o teu pop, como é que você faz pra ter tanto diálogo assim, com tanta gente diferente?

Dudu Valle

Eu gosto muito de musica e eu gosto muito de cantar e tá no palco, eu olhei muito para o palco lá de fora e obviamente a maior referência de pop no mundo é Estados Unidos, Inglaterra, enfim, até recentemente, hoje já tem muitos países que estão fazendo pops incríveis e muitos grandes, eu sempre achei que a minha identidade tava muito mais na narrativa, na forma como eu escrevo, na minha voz, no meu estilo de fazer as coisas do que no tipo de som que eu faço, e eu acho meio limitante isso, sabe? Eu gosto muito dessas pessoas e gosto muito de músicas e eu consigo transpassar pra ali, eu odeio um elitismo musical, sempre odiei, sempre achei que o tipo de musica mais legal é o que conversa com todo mundo, obviamente, eu amo coisas diferentes, mas eu amo coisas que impactam todo mundo e todo mundo consegue entender.

Jão

Hoje a gente vive em uma época e você acaba sendo um exemplo disso, é uma época de charts, de números. Seus números são realmente muito impressionantes, ao mesmo tempo que você dialoga com as pessoas que tem um repertorio imenso. Qual que é o nosso risco hoje de ficar tão preso ao número? Você é charteiro?

Dudu Valle

Eu? Não ligo muito, de ficar acompanhando cê diz?

Jão

De ficar acompanhando charts, quem que é o número maior, não é algo que pega pra você?

Dudu Valle

Não, a maioria das pessoas que eu gosto não é por isso que eu gosto delas, sabe? Eu gosto muito da Lana Del Rey, e acompanho a carreira dela faz muito tempo, eu acho ela uma compositora.. seila, a maior. E ela tem números incríveis, mas, ela tem uma carreira, sabe? Eu olho muito mais para isso

Jão

Eu queria voltar um pouco para o seu show, pois eu fui para duas datas suas do espaço unimed e uma coisa que me impressionou muito foi a quantidade de pessoas sendo retirados pois estavam passando mal, uma coisa meio beatles mesmo, sabe? Eu queria saber como é que você enxerga isso, não sei se as pessoas tão se hidratando direito, me conta um pouquinho.

Dudu Valle

Então, eu já lido com meus fãs há quatro anos, quando as coisas foram avançando e eu fui entendendo o que eles esperavam de mim, o que eles queriam, como eles se comportavam eu fui tomando um senso de responsabilidade muito grande, sabe? Por que antes eu achava que não, eu faço o que eu quiser e quem quiser me acompanhar, me acompanha pelo que eu faço como quero e eu ainda penso bastante assim, obviamente nunca me trairia para agradar, mas eu tenho um senso de responsabilidade muito grande nesse sentido, eu sei que eles vivem as coisas junto comigo, obviamente eu tenho muitos ouvintes casuais: ‘ah legal, ouvi a musica do jão, ouço jão pra ir ali e ali’, mas a maioria das pessoas que me acompanham, elas me acompanham por tudo, sabe? Pela letra, pela forma como eu penso ou pela forma como eu falo e isso é um pouco assustador, não é algo que eu saiba lidar 100% ainda, mas que eu adoro ao mesmo tempo. É uma coisa que eu não esperava que fosse existir pra mim, por que eu sempre fui uma pessoa muito introspectiva fora do palco e não achava que eu teria que lidar, sabe? Mas eles são minha segunda família, eu fico muito mais com eles do que com minha própria família.

Jão

Esse interesse na tua vida pessoal, você dentro da sua casa, a gente vê muito refletido na imprensa, nos fãs, querendo saber sobre sua afetividade, primeiro, isso não te cansa? É um fetiche das pessoas?

Dudu Valle

Eu acho um pouco natural a curiosidade, mas obviamente eu acho que tem que existir um limite, sabe? Tem que existir um pensamento de ‘ok, esse é um ser humano com várias coisas que eu posso explorar aqui e que oferece várias coisas’. Eu tenho curiosidade sobre um monte de coisas, sobre um monte de gente, mas eu jamais agiria sobre isso, sabe? Eu acho que a curiosidade é comum, humano, mas eu acho que ultrapassar os limites disso para satisfazer a sua curiosidade é muito estranho.

Jão

E relativamente você tem encontrado formas de comunicar isso, no seu trabalho, como você mesmo falou, é muito pessoal, você sente que as pessoas recebem bem o recado quando você dá ali no meio da música, no meio do clipe?

Dudu Valle

O meu interesse foi sempre falar pela arte, pois eu falo melhor, escrevendo e na minha arte, no meu show e na música, e no que eu conseguir explicar ou demonstrar, mas falando de sexualidade exclusivamente, eu não acho que ninguém tem que ser obrigado a falar sobre sua sexualidade, ninguém tem que ser obrigado a se expor à nada, mas na minha carreira, isso nunca foi uma questão pra mim, de ‘ah meu deus, eu vou esconder’, meus amigos, minha família, foi uma coisa muito aberta e eu achava que tava suficiente, e aí eu percebi que talvez, isso fosse importante para quem me ouve, para que eles se sintam mais confortáveis, mais seguros, que isso fique mais claro e se não tava mais claro, eu deixei mais claro, sabe? Se não é algo que me incomoda, por que não deixaria mais claro, sabe? Mas também acho que ninguém deve ser obrigado a falar e colocar contra a parede como acontece todos os dias com milhares de artistas.

Jão

Você também levou pirata para um outro nível quando você vai para Portugal, Europa, você encontrou esse outro público que te abraça muito bem também. Como é para você se comunicar com esse outro público que é tão distinto? Você muda alguma coisa, como foi essa recepção?

Dudu Valle

Foi colocando o pé na piscina sem saber se tá quentinho pra entrar, foi muito um experiência, não sabia o que esperar do público, não sabia o que esperar da imprensa, eu não sabia nada, eu fui pois tem pessoas lá que gostam muito de mim e eu precisava cantar para elas, foi muito mais legal do que eu imaginei que seria, eu esperava uma diferença que quase não existiu, obviamente tem umas pequenas particularidades, mas eles são muito mais parecidos com a gente, com o público, do que diferente.

Jão

E pessoalmente, você comprou alguma bobagem que você queria muito?

Dudu Valle

Eu não compro absolutamente nada

Jão

Você não compra, Jão? (risos)

Dudu Valle

Não, eu ainda não parei na minha casa, para refletir o que eu gostaria de fazer aqui, eu pago as minhas contas e tenho sonhos de coisas que eu quero conquistar, faço meus investimentos aqui e ali e basicamente isso, eu não gasto com absolutamente nada. (risos)

Jão

Ok… inesperado. (risos)

Dudu Valle

Mentira. Eu gasto muito com comida. Essa é uma historia minha e da minha irmã, a gente passava muito em loja de brinquedos e a gente não ligava pra nada, nada que a gente queria, nosso rolê, era ir em super mercado.

Jão

Sessão de doces?

Dudu Valle

Não, de tudo. Pão, doce, bala, a gente gostava muito de comer. E obviamente eu nunca passei fome, mas a gente tinha uma infância muito simples, a gente não tinha dinheiro pra ir lá e comprar esse tipo de coisa, então talvez foi algo que foi repercutindo na minha cabeça. Eu lembro muito de uma situação, que a gente foi com meu pai, em um super mercado, para a gente fazer as compras do mês, e aí ele falou ‘tá, vou conseguir comprar esse iogurte para você’ e aí chegou no caixa, deu um dinheirinho a mais e a gente teve que deixar o iogurte e eu fiquei muito triste, uma criança saber lidar com essa situação… e eu lembro que meu pai ficou muito desolado e hoje, adulto, fico imaginando o que deve ser para um pai querer dá uma coisa para um filho que quer comer um negocio diferente e tal, e você fala ‘puts, não posso fazer isso’, então acho que coloquei isso na minha cabeça sabe? Sempre que eu tiver vontade de comer alguma coisa e tiver dinheiro, eu vou comer.

Jão

A geladeira cheia de iogurte. (risos)

Dudu Valle

É bizarro, eu gosto muito de comer. (risos)

Jão

A turnê tá se encaminhando para o fim, quase na reta final. O que que a gente tem pra depois? Tem umas férias aí?

Dudu Valle

Com certeza, eu gosto muito desse tempo, é uma coisa que eu já coloquei na minha vida como uma meta pessoal, é muito bizarro, você percebe que não tá processando onde cê ta indo, sabe? É uma coisa pessoal, mas profissional também. A gente tem que aprender a ficar ausente, a pensar ‘o que eu quero fazer?’, fazer com calma, fazer bem feito, fazer no meu tempo. Eu acho que os artistas lá de fora, tem um pouco mais essa mentalidade sabe? ‘Ok, fiz meu trabalho aqui, agora preciso respirar, deixar as pessoas sentirem um pouco de saudade de mim, vou fazer meu trabalho aqui e volto’, e isso é saudável, é bom, sabe? Eu acho que as pessoas no Brasil tem muito medo de se ausentar, mas eu acho saudável, então eu quero muito.. e planejar, próximo disco, próxima turnê.

Jão

Quando pirata começou você raspou o cabelo pois era o iniciou de uma nova era, você vai fazer algum ritual de passagem aí?

Dudu Valle

Eu sempre faço, não sei qual vai ser dessa vez, se eu vou tatuar o corpo inteiro, se eu vou, seila, pintar o cabelo (risos). Mas eu gosto muito dessas coisas, eu gosto de movimentar as coisas, eu gosto desse ritual, acho que ele me instiga a fazer uma coisa diferente.

Jão

Você falou que vai parar para pensar no próximo trabalho, cê já não tá pensando nele?

Dudu Valle

Eu acho que vou parar para começar a executar, para eu poder dedicar à ele. Quando eu entreguei pirata, eu já tinha um esqueleto muito formado, que mudou completamente desde que aconteceu pirata para agora, mas eu já tinha uma boa noção de como seria o próximo disco, então eu preciso de tempo para sentar no estúdio e colocar pra fora.

Jão

O pirata você chegou com essa persona mais extrovertida. Eu queria saber para onde é que o vento ta apontando? Eu sei que você não pode abrir muita coisa ainda, mas onde é que o barco do pirata vai parar?

Dudu Valle

Ah eu quero evoluir, acho que os dois primeiros foram um pouco mais parecidos entre si, mas eu sinto que o pirata foi um álbum muito de transição, eu sempre soube que ele seria, todo o aspecto aquático dele, eu acredito nisso, foi uma passagem. Eu tenho um leque de coisas que eu gostaria de explorar, eu quero explorar, só preciso entender se é agora, se é no quinto, se é no sexto, então, não sei, não respondi nada (risos). Eu acho que é uma evolução, eu quero colocar esteroides da turnê pirata, eu quero que seja muito mais gigante.

Jão

Transcrição: Jão Brasil. | Fonte: Rolling Stone Brasil | Entrevistador: Dudu Valle

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